Photobucket - Video and Image Hosting Palimpnóia Entrevista: Francisco Dantas PALIMPNOIA ENTREVISTAS

Francisco Dantas

por Euza Noronha


Francisco de Assis Dantas é Professor Universitário, Doutor em Letras, já publicou inúmeros trabalhos sobre questões vernáculas e sobre aspectos estilísticos de obras literárias brasileiras. É autor de um ensaio A Frase Caótica (UFPB, 1991), em que estuda aspectos de estruturação do período em obras de Clarice Lispector, Autran Dourado, Antônio Callado e Cornélio Pena; e de Instantes Poéticos (Manufatura, 2006), seu primeiro livro de poemas. Adora música, literatura e cinema. Costuma apresentar poemas nos blogs: Uma janela para o mundo e Poesia Pura. Aposentado de compromissos acadêmicos, aproveita a vida escrevendo poemas, tocando seu teclado, lendo os autores de sua predileção e visitando os amigos blogueiros. Reside em João Pessoa-PB.

O que é poesia para você? E qual a função dela no mundo contemporâneo?

Para mim, a poesia é um meio especial de que o indivíduo dispõe para a expressão de sua subjetividade. Neste sentido, vale a pena evocar-se o poeta Mário Quintana ao referir-se à poesia como manifestação da emoção, provocadora do impulso poético e transfigurada pela arte. Nessa transfiguração, encontra-se a verdadeira caracterização da poesia, que vale pelo conteúdo, mas que se valoriza, prioritariamente, pela forma.
Quanto à função da poesia no mundo contemporâneo, não se pode deixar de se reconhecer que nem o homem nem o mundo sobrevivem sem a poesia. A poesia, como a arte em geral, oferece ao mundo um meio de equilíbrio, de estabilidade, de valorização de sentimentos positivos, de busca de melhores anseios. O efeito terápico, catártico do exercício da composição poética faz parte da vivência humana, nas diversas etapas de vida. E se isto é bom para o indivíduo, é bom, então, para o mundo. Adélia Prado disse, certa vez, que se salvou pela poesia. Assim, acredito eu, o mundo também pode se salvar pela poesia.

Como você vê a poesia contemporânea brasileira? Que autores você citaria?

Não é fácil falar-se sobre a poesia contemporânea brasileira, mesmo porque a produção da contemporaneidade está em processo, não tem sedimentação. Em termos de história e de estilo de época, tem razão Fábio Lucas ao afirmar que, na fase atual da poesia brasileira, “o que se nota é um aspecto mais fragmentário”. E conclui por dizer que “o panorama da poesia brasileira contemporânea assemelha-se a uma imensa constelação de estrelas solitárias, cada qual com o seu brilho e a sua trajetória”.
Quanto a nomes, eu citaria, em suas diversas manifestações, Affonso Romano de Sant´Anna, Ferreira Gullar, Carlos Nejar, Adélia Prado, Marcos Accioly, o paraibano Sérgio de Castro Pinto, dentre muitos outros nomes firmados no cenário atual. Mas, ainda evocando Fábio Lucas, há dificuldade em se estabelecer qualquer classificação tendencial.

Na sua visão, o que move alguém para o caminho da poesia? Existe algum ímã que atrai irresistivelmente? Ou seria um feitiço?

Segundo Roland Barthes, em Aula, “o homem é por si mesmo dramático, pois encena, cria, imagina e escapa do conceitual”. Talvez seja isto o que mova alguém para o caminho da poesia. Talvez esse ímã seja o impulso afetivo que leve o homem a querer expor o seu lirismo sob uma forma de linguagem revestida de aspectos estéticos valorizadores de sua expressão. Daí entender-se a razão de, sempre que aflora uma paixão, um sentimento muito forte, uma situação romântica, surgir o interesse em se expressar poeticamente. Também não é sem razão que predomina a poesia lírica. Isto, porém, não significa que a poesia deva existir como expressão de algo inconsciente, de pura inspiração, de fruto de um feitiço. A poesia deve materializar-se como uma forma resultante de elaboração, de escolhas, de burilamento, de soluções estilísticas pertinentes, de funcionalidade, de, enfim, trabalho. Ao contrário do que muitos pensam, o poeta trabalha a poesia. Em seu sentido etimológico, poesia significa criação, ação, fabricação, confecção, e tudo isso, redundantemente falando-se, implica trabalho.

Um poeta já nasce poeta ou trabalha para sê-lo? E como seria este trabalho, além da constante leitura de poesia?

Ninguém nasce poeta. Mas creio que, na complexidade da máquina humana, o indivíduo pode vir à luz com, como se costuma dizer, um “pendor”, uma tendência para as artes e, particularmente, para a poesia. As circunstâncias vivenciais do indivíduo podem, então, acionar essa tendência à criatividade e favorecer o surgimento de um poeta. Mas o trabalho é importante, a leitura é importante, o domínio técnico é importante, a bagagem intelectual é importante. Enfim, é importante tudo aquilo que se some àquela tendência e faça com que o indivíduo possa progredir em sua expressão artística, em seu fazer literário, em seu fazer poético. A intuição pode ser importante, mas a expressão formal depende de fatores, de escolhas, de princípios que precisam ser descobertos, aprendidos e postos em prática conforme normas estabelecidas e, muitas vezes, até impostas pelo momento histórico, pela sociedade. E esse trabalho consiste, em se tratando de linguagem, no uso adequado de recursos lingüísticos pertinentes, eficientes, adequados ao que se pretende elaborar, uma vez que, na poesia, o prioritário está no enunciado, considerado, em sua estrutura material, como portador de um valor intrínseco, como sendo um fim. A genialidade não liberou as maiores expressões da arte universal da busca de melhores conhecimentos e de melhores técnicas.

Como a poesia surgiu na sua vida?

Meus primeiros contatos com a poesia se deram, ainda na infância, como ouvinte de canções cantadas por minha mãe e por minhas irmãs. Gostava de ouvi-las cantar poemas musicados, como Meus oito anos de Casimiro de Abreu, Minha terra tem palmeiras de Gonçalves Dias, dentre outros. Havia também freqüentes contatos com os folhetos de cordel, muito fáceis de encontrar, de ler e de ouvi-los nas feiras do interior nordestino. Já como estudante, gostava de ler e reler uma famosa Crestomatia, que havia em casa, além da famosa Antologia Nacional de Carlos de Laet e Fausto Barreto. Nos anos de seminarista, nas séries mais avançadas, o estudo de poetas clássicos, portugueses, latinos e gregos, motivava o interesse pelo desconhecido. Como professor, a poesia já surge como objeto de estudo, de análise, de descoberta e de transmissão de técnicas observadas nos textos de autores brasileiros e portugueses. Como poeta, a poesia surgiu no anoitecer de um dia de maio de 1965, como estudante, em Fortaleza, quando fui invadido por um sentimento de nostalgia, ouvindo o barulho das correrias de um bando de crianças. Foi quando senti desejos de exprimir tal sentimento através de um poema, o primeiro (Vésperas), que está em meu livro Instantes Poéticos. Depois, vieram outros, em diversos momentos da vida; veio o primeiro livro; veio o contato com produções poéticas divulgadas na Internet. E a produção continua.

Agora, falemos da sua poética. Como você a descreve?

A minha poesia é de aparência simples porque estruturada numa linguagem simples. Disto resultou um livro, no dizer de Affonso Romano de Sant´Anna, “legível” dentro do cipoal da poesia contemporânea. Mas o simples não significa que seja ela despojada de elaboração, de aproveitamento de recursos estilísticos adequados à minha expressão. Sou pela correção gramatical; busco sempre uma marcação rítmica apropriada; evito o rebuscamento retórico e tudo o que não se apresente como funcionalmente justificável. Não sou dado a experimentações formais. Em outras palavras, procuro maneiras de criar e manter um diálogo com os possíveis leitores de meus poemas. Concordo com o Professor Adalberto dos Santos quando diz, em posfácio a meus Instantes Poéticos, que eu desejo o diálogo com o leitor, de forma natural, e não a frustração de uma conversa entre desentendidos.

Partindo do princípio de que todo escritor sofre a angústia da influência, você tem clareza das influências que a sua poesia sofre?

Não sofro essa angústia, pois, sinceramente, não tenho clareza de influências sofridas por minha poesia. É claro que, situando-se em determinado momento histórico, com leituras, estudos, contatos com obras de importantes autores, o indivíduo dificilmente escapa de marcar seu estilo com traços, consciente ou inconscientemente, herdados de outrem. Ao mesmo tempo, é possível que, em decorrência do chamado “espírito da época”, de que falava Karl Vossler, se constatem convergências de idéias, de pontos de vista, de traços lingüísticos em autores situados em um mesmo contexto histórico. Mesmo entre teóricos, isto é possível, como no caso do já citado Karl Vossler e Leo Spitzer, ambos alemães, situados em uma mesma época, e teóricos de uma mesma corrente estilística. Pelas semelhanças, Leo Spitzer era considerados discípulo de Vossler, sem nunca o haver sido. Havia afinidades, mas, pela falta de contatos, de um com o outro, não seria conveniente falar-se em influência. Em meu modesto caso, é apontada uma influência explícita de Manuel Bandeira, além de referências a influências recebidas de Mário Quintana, e de outros. Fico contente, pois creio que isto só valoriza o que tenho feito. Antes que sofrer, alegro-me.

Você é um poeta que mantém blog e uma relação de proximidade com seu leitor. Existe algum ganho, em termos de crescimento poético, nesta troca com o leitor? Que tipo de influência ele pode ter sobre a sua poética?

O blog favorece essa relação de proximidade com o leitor. E sempre existe algum ganho nessa interação, que deve influir no crescimento poético de alguém. Tudo depende de como se dá esse relacionamento e com quem ele se dá. Há pessoas que freqüentam o blog, que demonstram terem lido o seu texto com interesse, e tecem comentários de natureza crítica que podem despertar a atenção do autor para algo que possa ou deva ser melhorado, ou evitado. Se não fosse assim, não haveria quem, antes de publicar um livro de poemas, apresente-os ao crivo dos freqüentadores de seu blog. Além disso, pode-se perceber uma atitude de admiração, de seriedade e, sobretudo, de respeito, decorrente, com certeza, do reconhecimento da qualidade de seus textos. Do contrário, o poeta blogueiro se vê isolado, terminando por encostar o espaço, por cancelar o blog , e por sair dizendo por aí que blog é coisa fútil, espaço de bajuladores. É claro que há muitos espaços mal aproveitados como, também, muitos espaços de pura badalação, de trocas de louvores, de improvisações, etc. Em meu caso, não improviso poemas na hora de postá-los, nem os faço pensando em publicá-los no blog. Publico-os, aí, simplesmente, como digo na apresentação de Meus Instantes Poéticos, para dividir com as pessoas minhas sensações e motivações estéticas; repassar a outros o sentimento de que a poesia é um dos meios mais expressivos, eficientes, de que dispomos para influenciar o outro, sobretudo na forma mais positiva, que é a da emotividade, da afetividade, da sensação estética.

Para terminar, cite um poeta desta nova geração que é sua leitura freqüente.

Desta nova geração, que se me revelou como uma gratíssima surpresa, cito o Fabrício Carpinejar, um poeta ainda jovem, mas de uma poética contagiante pela riqueza das imagens, pelo apuro formal, pela correção da linguagem. Adoro ler os seus textos, visitar o seu blog, ler ou ouvir suas entrevistas.

Para ler alguns poemas de Francisco Dantas, clique aqui Poemas.



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